Coreia do Norte vive maior crise de insegurança alimentar desde a grande fome que matou 5% da população

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Durante a década de 1990, a Coreia do Norte enfrentou um
período de grande falta de alimentos, o que, segundo estimativas, provocou a
morte de entre 600 mil e 1 milhão de habitantes, o equivalente a de 3% a 5% da
população do país comunista à época. Esse período de grande fome foi denominado
Marcha Árdua.

Em um país tão fechado, ter informações precisas é difícil,
mas alguns indicadores apontam que a Coreia do Norte está se aproximando do seu
pior período de insegurança alimentar desde os anos 90.

Imagens de satélite feitas pela Coreia do Sul, cujo
Ministério da Unificação já pediu ajuda ao Programa Alimentar Mundial (PMA),
apontaram que a produção de alimentos do vizinho ao norte teve um decréscimo de
180 mil toneladas em 2022 na comparação com 2021.

O próprio PMA havia alertado sobre intensas secas e
inundações que afetariam a produção norte-coreana no período 2022/2023.

Lucas Rengifo-Keller, pesquisador do think tank americano
Instituto Peterson para a Economia Internacional, apontou que a Coreia do Norte
manteve historicamente uma meta de autossuficiência alimentar.

“No entanto, alcançar uma produção agrícola adequada nos
solos desfavoráveis da Coreia do Norte, ironicamente, gerou uma forte
dependência de bens importados e deixou o país exposto a choques globais,
conflitos diplomáticos e clima adverso. Além disso, a repressão arbitrária do Estado
aos donju (empreendedores) independentes reduz os incentivos e priva a economia
de investimento e crescimento”, apontou Rengifo-Keller em artigo recente no
site 38 North, no qual alertou que a disponibilidade de alimentos na Coreia do
Norte “provavelmente caiu abaixo do mínimo em relação às necessidades humanas” e
“está no pior patamar desde a fome do país na década de 1990”.

Agora, o fechamento completo da fronteira com a China e a
intensificação do isolamento norte-coreano durante a pandemia de Covid-19, impostos
pelo ditador Kim Jong-un (que afirmou recentemente que o país precisa passar
por uma “transformação fundamental” na agricultura), impedem a chegada de
alimentos pelo mercado paralelo, um dos grandes eixos de subsistência da
população desde a implantação do comunismo.

“A Coreia do Norte aprofundou o isolamento e a repressão,
agravando a crise humanitária do país, com milhões de cidadãos sofrendo de
grave insegurança alimentar e falta de assistência médica”, apontaram uma série
de organizações, entre elas a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, em
carta aberta enviada em fevereiro ao Conselho de Direitos Humanos das Nações
Unidas.

Outra ação do ditador que levou a esse cenário de
insegurança é sua insistência em direcionar recursos para o programa de armas
norte-coreano, ao invés de usá-los para melhorar as condições de vida da
população.

“O regime está ciente de como as coisas estão difíceis para
as pessoas comuns na Coreia do Norte, mas continua a priorizar a propaganda e a
ostentação para a família Kim, lançamentos de mísseis e controles rígidos [sobre]
a população”, afirmou Sokeel Park, diretor da organização sem fins lucrativos Liberdade
na Coreia do Norte (Link, na sigla em inglês), em entrevista à BBC.

Park, cuja organização ajuda a alocar refugiados
norte-coreanos na Coreia do Sul e nos Estados Unidos, afirmou que a Link recebeu
“vários relatos confiáveis de [que há] pessoas morrendo de fome” no país.

Entretanto, a ditadura comunista não parece estar disposta a reconhecer seus erros: em fevereiro, o jornal oficial do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte apontou que ajuda externa é uma “armadilha [de outros países] para saquear e subjugar”.

“É um erro tentar impulsionar a economia aceitando e comendo esse doce envenenado”, argumentou, em editorial. Nessa aposta de retórica barata de Pyongyang, as vidas de milhões de norte-coreanos estão em jogo.

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