Quando o sol se punha naquele fatídico dia de 79 d.C., o céu acima da cidade romana de Pompeia se tingia de cores ameaçadoras, anunciando a catástrofe iminente.
O Monte Vesúvio, uma presença sinistra no horizonte, despertou em uma erupção violenta que liberou uma letal onda inicial de gases quentes, um inferno efêmero e escaldante com temperaturas elevando-se até 550°C.
Esse estouro abrasador foi poderoso o suficiente para transformar cérebros humanos em vidro e dizimar instantaneamente a cidade vizinha de Herculano.
Em um estudo revolucionário, pesquisadores analisaram a madeira carbonizada de vários locais em Herculano, que estava situada mais perto da montanha mortal do que Pompeia.
Através de um cuidadoso exame dos fragmentos parcialmente queimados, eles reconstruíram os eventos térmicos que ocorreram após a erupção. A cidade foi inicialmente devastada por um fluxo gasoso-particulado fugaz, porém incrivelmente tórrido, uma corrente de densidade piroclástica diluída (PDC) que abrasou tudo em seu caminho.
Os cientistas relatam os detalhes angustiantes: “a primeira PDC diluída entrou em Herculano com uma temperatura superior a 550°C registrada por amostras coletadas no Collegium Augustalium e no Decumanus Maximus [rua principal]”. Após essa explosão inicial de calor, uma série de correntes piroclásticas mais frias varreu a cidade, enterrando-a eventualmente sob uma camada de 20 metros de depósitos vulcânicos.
A natureza transitória e intensidade abrasadora do jato inicial resultaram em apenas alguns decímetros de cinzas no chão, tornando-o indetectável até este recente estudo. PDCs diluídas semelhantes foram testemunhadas após outras erupções vulcânicas, como a de Martinica em maio de 1902, que ceifou quase 30.000 vidas em um instante.
Embora nenhuma evidência direta da PDC diluída em Herculano tenha sido descoberta antes, os pesquisadores argumentam que inúmeras pistas estão nos restos das vítimas. Enquanto os corpos em Pompeia foram encontrados na postura clássica de pugilista, seus homólogos em Herculano não puderam assumir tal posição, já que o calor extremo havia obliterado seus tecidos moles.
Um cérebro vitrificado, milagrosamente preservado dentro de um crânio no Collegium Augustalium, oferece mais informações. Os pesquisadores afirmam que um cérebro só pode ser transformado em vidro se o evento de aquecimento for breve o suficiente para evitar a vaporização completa, e as correntes piroclásticas subsequentes forem frias o suficiente para permitir o acúmulo de cinzas.
Essas descobertas têm implicações significativas para os habitantes da atual Nápoles, caso o Vesúvio entre novamente em erupção. Se ocorrer outra PDC diluída, os cientistas acreditam que a sobrevivência depende da capacidade dos abrigos de impedir a infiltração do gás quente e empoeirado. “Isso poderia permitir que pessoas que não tivessem tido a chance de evacuar antes sobrevivessem e esperassem pelo resgate”, concluem.
Este estudo está presente no conceituado periódico Scientific Reports.